Durante séculos esse gênero passara por ser leitura indecente e corruptora, proibida as mocinhas. O processo de reabilitação foi vagaroso, interrompido por recidivas e uma delas foi, em 1857, o processo movido contra o autor de Madame Bovary perante a Sexta Corte Correcional do Tribunal do Sena. Flaubert foi absolvido pelos juízes, mas não pelos críticos puritanos, que não lhe perdoaram o tratamento cru do tema: adultério.
Madame Bovary é, simplesmente, uma obra de arte. É a primeira obra de arte, conscientemente criada, na história desse gênero sem regras e sem arte que é o gênero Romance.
"Dicionários modernos da língua portuguesa definem como bovarismo o pendor de certos espíritos românticos para emprestarem a sí mesmos uma personalidade fictícia e a desempenharem um papel que não se coaduna com a sua verdadeira natureza. O termo significa, portanto, a intervenção desastrosa de idéias pseudo-românticas na vida real: destino próprio de pessoas educadas sob os auspícios de falsos ideais e, depois da decepção inevitável, roídos pelos ressentimentos.
O pensador Francês Jules Gautier acreditava descobrir o mesmo bovarismo em grupos inteiros da sociedade, como a classe média empobrecida, que se esforça para viver conforme critérios aristocráticos. Diz-se bovarismo assim como se diz quixotismo, hamletismo, donjuanismo. Trata-se de um dos grandes tipos da natureza humana e seu protótipo é Emma Bovary, a triste heroína do romance de Gustave Flaubert."